quarta-feira

.Toda sabedoria de Mário Quintana.

BORBOLETAS

Quando depositamos muita confiança ou expectativas em uma pessoa, o risco de se decepcionar é grande. As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas, assim como não estamos aqui, para satisfazer as delas. Temos que nos bastar... nos bastar sempre e quando procuramos estar com alguém, temos que nos conscientizar de que estamos juntos porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem, nunca por precisar de alguém. As pessoas não se precisam, elas se completam... não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida. Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com a outra pessoa, você precisa em primeiro lugar, não precisar dela. Percebe também que aquela pessoa que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente, não é o homem ou a mulher de sua vida. Você aprende a gostar de você, a cuidar de você, e principalmente a gostar de quem gosta de você. O segredo é não cuidar das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até você. No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!

Mário Quintana

.Acordo atemporal.



"(...)muito obrigado pela frase feita..."

.Será.

Eu respondi “sei lá...”. Seria tão bem-sucedido o caso de uma noite só. One night only, babe. Com direito a ressaca, arranhões e substâncias coloridas. Não lembrava o nome, sabe? Não sei a que horas cheguei aqui também... Mas não sei o que é culpa. E é impressionante o poder que tenho de me desapaixonar. Eu acho o máximo a superfície, mas se me aprofundo o mínimo além do meu máximo, basta. Volto pro começo, mas como é um começo que eu já conheço, tudo perde a graça... E é difícil ser novidade todo dia, não é mesmo? Hoje tá chovendo. Pois é. Frio pra uma noite carioca. Fugi desse quadrado cheio de gente séria para fumar um cigarro. Senti o arrepio começando pela orelha. O ouvido doeu. O fígado, já na fuga, estava nessa condição. Tudo é dor. E tudo é delírio. Será que ela lembra do que comeu ontem? Talvez. É, talvez...

sexta-feira

.Desculpas por ontem.

Fome. Hoje eu vomitei três vezes. Depois, olhei pra bem dentro de mim mesma e, diante do espelho, me julguei com o dedo em riste. Não disse basta, mas sabia que deveria dizer. Meu sorriso grande da noite passada ficou por lá mesmo. E é sempre assim. Tento lembrar quantas vezes chamei o garçom naquela mesa do canto e pedi “mais uma por favor”. Impossível. Fome. Cresce enquanto escrevo. É que eu não aprendi ainda a não fazer aquilo que não quero. Na verdade, esse aquilo que não quero é o que eu gostaria de fazer sem me culpar. Mas, no dia seguinte, ficam as dores, as marcas, as lembranças, os esquecimentos e alguma vontade. Só sei que num determinado momento alguém perguntou o meu nome e eu não sabia mais... Houve também uma conversa sobre pianos, pianistas, alpinistas e gracilianos. Você fez alguns elogios baratos e eu, suscetível, embriagada, com o coração na cabeça, simplesmente sorri. Aquele de consentimento. De “ok, já ouvi isso antes e sei muito bem no que vai dar...”. De fato. Depois disso, ficamos íntimos.

quinta-feira

terça-feira

Entendimento das coisas.

Na noite passada, sonhei que andava pelas ruas tateando as paredes e pedindo que alguém limpasse meus óculos. Assim que acordei, sorri um daqueles sorrisos que você nunca gostou - porque julgava que era um deboche puro e gratuito, e disse qualquer coisa a mim mesma. Entendi imediatamente o sentido daquele sonho. Você sempre limpava meus óculos pela manhã. Sim, é verdade. E eu sempre escrevia sobre coisas simples antes de você. Depois, deixei o tec-tec do teclado de lado e guardei tudo demais.
Agora estou aqui no quarto pequeno, branco. Lá fora, o zumbido da TV ligada só porque assim tem que estar me acompanha, assim como o cheiro de cigarro que está em todo lugar. Minha caixa de bombons está vazia, mas não quero procurar um supermercado às 3 da manhã só para comprar chocolate.
É tudo tão hábito, não é mesmo? Um dia você chegou na sala e disse “Nádia, vou embora. Você não percebe que não te faço mais feliz? Que não nos damos mais bem?!”. Eu balancei a cabeça, concordando. Você se agachou, segurou uma mala marrom, na mão esquerda, algo ainda brilhava, assim como teu rosto nervoso. Você deixou recomendações sobre os cachorros e foi embora sem dizer tchau. Murmurou qualquer coisa descendo as escadas e bateu a porta como de costume.
Eu pensei “será que eu cozinho assim tão mal?!”. E como quase sempre, eu mesma respondi “não, ele não está indo embora por causa disso...”. Depois, pouco tempo depois, percebi que as minhas músicas lentas, doces e tristes nunca te agradaram. Agora estou aqui. Escolhi uma trilha sonora, juntei palavras sinceras e, em poucos parágrafos também me despeço.

sábado

Carta de recomendações

Quando você tiver à beira de um ataque de nervos, bêbado, enlouquecido por qualquer coisa, qualquer música, qualquer pessoa, querendo atirar alguém do alto de algum terraço, cuja vista seja cenário de uma morte bela e inesquecível e premeditada e uma morte de algum amor, um tipo de amor que não foi; quando a embriaguez excessiva te prejudicar a ponto de aquilo tudo que queria dizer se apresentar com outra cor (não em tom pastel, mas num vermelho sangue); quando você pedir mais uma dose em plena terça-feira chuvosa e “mais e mais, por favor!”; quando o teu desespero ultrapassar as barreiras da sanidade; quando a caminhada na areia de praia às três da manhã não for mais, não vá!; quando você disser aquilo que não sente só por vontade de dizê-lo a alguém; quando você não tiver mais tempo para me ver; quando as telas de cinema se desmancharem e as vozes de seus personagens se confundirem; quando as ruínas do tempo começarem; não vá, quando o encontro não der certo; quando a camisinha estourar; quando você sentir frio, medo, fome, desejo, loucura e quando isso tudo não passar; quando nenhuma música te eriçar os pêlos do corpo; quando não houver aquela vontade de receber qualquer carinho ou afeto; quando o sorriso do alvorecer não conter luz alguma ao teu olhar; quando o descrédito dos teus amigos; quando o bolso, a barriga, o coração estiverem vazios; quando a TV, a água, o gás, os pulsos forem cortados; quando, quando; quando, em nenhuma língua estrangeira, brasileira, quando não houver voz; quando a rouquidão, a solidão, a confusão, o tesão te embaraçarem a cabeça de tal modo, vá de encontro. Mas vá!